quarta-feira, 25 de maio de 2011

ser apagado

Desde que assisti "O brilho eterno de uma mente sem lembranças", meu maior medo, junto com a velhice, tornou-se o de ser apagado.

Deletar significa subtrair da mala, não levar nada, deixar-se esvair tudo. Desse "mal" eu com certeza jamais sofrerei, tenho apego demais pra simplesmente passar a borracha no passado, vivo intensamente nos bons momentos e nos males também, o que só torna o processo de distância mais árduo, porém, espera-se que no fim, mais benéfico.

Uma amiga certa vez falou:
"...sempre vale lutar por algo que vale a pena, e quando parar de valer, aí sim desistir torna-se uma opção."

Depois disso, então, o que fazer? APAGAR? Lembrar é ter a coragem de nutrir e amar, nem que seja pra ver-se ser apagado por outrem. Quando erramos somos "obrigados" a lembrar, pois sem a lembrança não há mudança, passa-se para o próximo estágio sem pausas ou intervenções e a chance de errar de novo se torna muito grande, grande demais para continuar sem pisar em ovos, com medo de cair na fenda aberta de erros passados.

Todos temos defesas e livre arbítrio, podemos ir e vir, escrever e apagar, sujar e limpar como nos for mais cômodo, mas com esse direito vem a responsabilidade pelo que levamos e deixamos para trás, as vidas que deixamos de mudar hoje, por conta da mágoa que erros passados nos fazem carregar. É egoísta e mesquinho exigir que o outro sofra o mesmo que você, porém é humano. Deixar-se apagar sem ao menos perguntar-se qual foi sua relevância é baixa auto-estima demais, nesse caso, é melhor recomeçar tudo, do zero.

Se perguntado me for, direi que prefiro andar por aí, carregando minha mala pesada, cheia de desavenças, diferenças, mágoas e lágrimas, mas, isso será sempre sinal de que estou em algum lugar diferente de onde comecei, que não voltei à estaca zero, que estou vivo e respirando, mesmo que machucado, em um momento e espaço novos, consciente dos meus equívocos, e, por isso, muito mais propenso a realmente transformar-me do que aqueles que recomeçam sua pintura com uma tela branca, morta e vazia.

Todos sofremos hora ou outra, e a dor nunca é a mesma pra todo mundo, apesar de imensurável. O que fazemos hoje com o sofrimento conquistado é o que define não só o futuro, mas o que vivemos no passado também. Pra que ponderar sobre o futuro se o que existiu no passado foi irrelevante? não há por quê, de fato.

GUARDA ESSA BORRACHA e vai ser alguém pra alguém hoje, faça a diferença, pega o lápis e escreve algo novo, algo que valha a pena ser guardado amanhã, nem que seja no fundo de uma gaveta, empoeirado e com cheiro de naftalina. Da dor de ser apagado, ninguém merece sofrer, essa é a "falta de moral" dessa "história".

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